A Dor de Pensar em Fernando Pessoa

Fernando Pessoa tem a consciência de que a capacidade analítica é dolorosa e que esta não o conduzirá nem à verdade nem à felicidade, no entanto, é incapaz de a renunciar, acabando assim por torná-la num vício excessivo e invencível.

No poema “Ela canta, pobre ceifeira”, nota-se, por parte do sujeito poético uma incompreensão perante a atitude da ceifeira que canta mesmo sem ter razões para o fazer (“Ela canta, pobre ceifeira, /Julgando-se feliz talvez”, “Ah, canta, canta sem razão!”), desejando também ele ser assim, inconsciente, sentindo a felicidade plena de existir sem recorrer à interrogação e intelectualização dos sentimentos, mas sem abdicar da sua capacidade de racionalização (Ah, poder ser tu, sendo eu! /Ter a tua alegre inconsciência, /E a consciência disso! Ó céu!”).

Do mesmo modo no poema “Ó sino da minha aldeia”, o sino enuncia-se como símbolo de passagem do tempo, o sujeito poético evidencia o facto de não ter conseguido aproveitar o passado, revelando-se inconformado (“E é tão lento o teu soar,/Tão como triste da vida,/…”) e com pouca expectativa em relação ao futuro (“És para mim como um sonho/Soas-me sempre distante…”).

Concluindo, obcecado pela auto-análise e pela intelectualização do sentir, Fernando Pessoa sofre a vida, incapaz de a viver plenamente.

Texto Expositivo-Argumentativo escrito por Ana Pedro

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