A escrita de Saramago é marcada por um estilo e uma linguagem peculiares, que o diferenciam no panorama literário português. Crítico de tempos passados e presentes, procura subverter conceitos tradicionalmente aceites na sociedade, satirizando situações e personagens, servindo-se para isso de uma escrita igualmente subversiva.
Efectivamente, a pontuação utilizada por Saramago confere à escrita uma especificidade que desafia a gramática académica, dificultando a leitura. Esta recriação pretende oferecer ao leitor a oportunidade de entoar, ele próprio, as palavras, bem como personalizar a leitura, contribuindo para a sua expressividade. Substituindo-se marcas do discurso oral por maiúsculas e pontos por vírgulas, como em “Hei-de ir para Mafra, tenho lá família, Mulher, Pais e uma irmã”, a pontuação é uma das características mais revolucionárias do estilo de Saramago.
Por outro lado, a visão ‘brechtiana’ do autor é evidente na crítica social que proporciona nas suas obras, através da utilização de figuras de estilo como a metáfora, a enumeração, a ironia e o sarcasmo. Estas servem, sobretudo, para satirizar a sociedade e os seus aspectos mais marcantes. No 'Memorial do Convento', por exemplo, Saramago critica o povo e a realeza por gostarem do espectáculo das touradas, semelhante “ao churrasco do auto-de fé”. De forma subtil ou mordaz, a ironia está sempre presente nas palavras do autor.
Em suma, Saramago assume-se como Neo-realista, com base na ideologia marxista de defesa do povo e crítica ao poder, bem como céptico ao nível da religião. Utilizando, para além da pontuação e das figuras de estilo peculiares, aforismos, provérbios, a coloquialidade e a intertextualidade, subverte o próprio conceito de escrita e afirma-se como um visionário na literatura, no que respeita ao estilo e à linguagem.
Texto Expositivo-Argumentativo escrito por Raquel Silva